sexta-feira, 11 de setembro de 2015

BLOW UP, A HISTÓRIA DE UM FOTOGRAFO


BLOW UP, 
HISTÓRIA DE UM FOTÓGRAFO (1966)

Após ter completado o ciclo que “O Grito” anunciava e “O Deserto Vermelho” culminava de forma rigorosa, atingindo a esfericidade perfeita do “huis clos” sem saída para a aventura da incomunicabilidade e para a impossibilidade do amor, numa sociedade cujas regras cada vez mais o homem desconhece, Antonioni voltou-se agora para um outro aspecto desse mundo, dirigindo, em Inglaterra, “Blow-Up” (“A História de Um Fotógrafo”).
Fotógrafo, jovem, moderno, dominando o universo da moda, Thomas durante um passeio num parque londrino capta algumas imagens, onde posteriormente vem a descobrir um assassínio. Este fio de intriga, vagamente policial, serve de base a algumas pertinentes e lúcidas observações do autor sobre a relação entre o indivíduo e a realidade envolvente, cada vez mais desagregada, esbatida, difusa. Estas anotações tornam-se flagrantes no caso da fotografia ampliada, onde um amontoado de pontos negros e brancos aguçam a curiosidade do fotógrafo, levando-o a tentar ordenar esse sistema, procurando averiguar, no seu interior, quais as relações existentes e as causas possíveis. Essa fotografia, uma verdade bidimensional, prolonga-se em significado pela pintura abstracta de Bill, herdeira da pintura pontiforme dos impressionistas, a que o artista dá uma interpretação posterior. Em “Blow-Up”, Antonioni repensa o próprio cinema, como encadeado de imagens, produto de uma realidade móvel, que constantemente se afirma e nega (a conversa de Thomas com Jane, sobre o seu casamento, a mulher, os filhos e a sua vida é exemplar neste contexto).


Nesta civilização onde os elementos dispersos se oferecem ao olhar vertiginoso do homem moderno, impossibilitando-o de uma análise detalhada e profunda, e de qualquer tentativa de total compreensão, Thomas pretende, ainda que por simples desporto (tal como quem luta pela posse do cabo de uma guitarra, logo deixado no passeio), organizar um conhecimento real e consequente. Essa fotografia, que ele julga serena e pacífica (e que destinaria ao fecho do seu livro), não passava afinal de mais uma prova irrefutável da histeria e violência de uma sociedade que aprendeu unicamente o autodevorar-se com sofreguidão. De posse da solução deste crime, Thomas sente-se momentaneamente atordoado, confuso, desiludido, mas, na partida de ténis que alguns jovens mimam, no fim do filme, este voltará a entrar nesse mundo de ilusão, onde as aparências sufocam as realidades.
Em paralelo com “O Deserto Vermelho”. “Blow-Up” surge-nos uma obra de feitura mais espontânea, ainda que minuciosamente cronometrada, onde a fotografia de Carlo di Palma e as interpretações de David Hemmings, Vanessa Redgrave e Sarah Miles justificam aceno especial e conferem unidade a maia esta obra-prima de Antonioni.

BLOW UP, HISTÓRIA DE UM FOTÓGRAFO
Título original: Blowup

Realização: Michelangelo Antonioni (Inglaterra, EUA, 1966); Argumento: Michelangelo Antonioni, Tonino Guerra, Edward Bond, segundo novela de Julio Cortázar ("Las babas del diablo"); Produção: Carlo Ponti, Pierre Rouve; Música: Herbie Hancock; Fotografia (cor): Carlo Di Palma; Montagem: Frank Clarke; Casting: Irene Howard; Direcção artística: Assheton Gorton; Guarda-roupa: Jocelyn Rickards; Maquilhagem: Stephanie Kaye, Paul Rabiger; Direcção de produção: Donald Toms, Roy Parkinson; Assistentes de realização: Claude Watson, Antal Kovacs; Departamento de arte: Alan Roderick-Jones; Som: Robin Gregory, Mike Le Mare, J.B. Smith; Companhias de produção: Bridge Films, Metro-Goldwyn-Mayer (MGM); Intérpretes: Vanessa Redgrave (Jane), Sarah Miles (Patricia), David Hemmings (Thoma), John Castle (Bill), Jane Birkin (a loura), Gillian Hills, Peter Bowles, Veruschka von Lehndorff, Julian Chagrin, Claude Chagrin, Jeff Beck, Susan Brodrick, Tsai Chin, Julio Cortázar (vaganundo), Chris Dreja, Melanie Hampshire, Harry Hutchinson, Jill Kennington, Mary Khal, Chas Lawther, Dyson Lovell, Jim McCarty, Peggy Moffitt, Rosaleen Murray, Ann Norman, Ronan O'Casey, Jimmy Page, Keith Relf, Janet Street-Porter, Reg Wilkins, etc. Duração: 111 minutos; Distribuição em Portugal (DVD): Warner Bros; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 9 de Janeiro de 1968.

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