BLOW
UP,
HISTÓRIA DE UM FOTÓGRAFO (1966)
Após ter completado o ciclo que “O
Grito” anunciava e “O Deserto Vermelho” culminava de forma rigorosa, atingindo
a esfericidade perfeita do “huis clos” sem saída para a aventura da
incomunicabilidade e para a impossibilidade do amor, numa sociedade cujas
regras cada vez mais o homem desconhece, Antonioni voltou-se agora para um
outro aspecto desse mundo, dirigindo, em Inglaterra, “Blow-Up” (“A História de
Um Fotógrafo”).
Fotógrafo, jovem, moderno, dominando o
universo da moda, Thomas durante um passeio num parque londrino capta algumas
imagens, onde posteriormente vem a descobrir um assassínio. Este fio de
intriga, vagamente policial, serve de base a algumas pertinentes e lúcidas
observações do autor sobre a relação entre o indivíduo e a realidade envolvente,
cada vez mais desagregada, esbatida, difusa. Estas anotações tornam-se
flagrantes no caso da fotografia ampliada, onde um amontoado de pontos negros e
brancos aguçam a curiosidade do fotógrafo, levando-o a tentar ordenar esse
sistema, procurando averiguar, no seu interior, quais as relações existentes e
as causas possíveis. Essa fotografia, uma verdade bidimensional, prolonga-se em
significado pela pintura abstracta de Bill, herdeira da pintura pontiforme dos
impressionistas, a que o artista dá uma interpretação posterior. Em “Blow-Up”,
Antonioni repensa o próprio cinema, como encadeado de imagens, produto de uma
realidade móvel, que constantemente se afirma e nega (a conversa de Thomas com
Jane, sobre o seu casamento, a mulher, os filhos e a sua vida é exemplar neste
contexto).
Nesta civilização onde os elementos
dispersos se oferecem ao olhar vertiginoso do homem moderno, impossibilitando-o
de uma análise detalhada e profunda, e de qualquer tentativa de total
compreensão, Thomas pretende, ainda que por simples desporto (tal como quem
luta pela posse do cabo de uma guitarra, logo deixado no passeio), organizar um
conhecimento real e consequente. Essa fotografia, que ele julga serena e
pacífica (e que destinaria ao fecho do seu livro), não passava afinal de mais
uma prova irrefutável da histeria e violência de uma sociedade que aprendeu
unicamente o autodevorar-se com sofreguidão. De posse da solução deste crime,
Thomas sente-se momentaneamente atordoado, confuso, desiludido, mas, na partida
de ténis que alguns jovens mimam, no fim do filme, este voltará a entrar nesse
mundo de ilusão, onde as aparências sufocam as realidades.
Em paralelo com “O Deserto Vermelho”.
“Blow-Up” surge-nos uma obra de feitura mais espontânea, ainda que
minuciosamente cronometrada, onde a fotografia de Carlo di Palma e as
interpretações de David Hemmings, Vanessa Redgrave e Sarah Miles justificam
aceno especial e conferem unidade a maia esta obra-prima de Antonioni.
BLOW
UP, HISTÓRIA DE UM FOTÓGRAFO
Título
original: Blowup
Realização: Michelangelo
Antonioni (Inglaterra, EUA, 1966); Argumento: Michelangelo Antonioni, Tonino
Guerra, Edward Bond, segundo novela de Julio Cortázar ("Las babas del
diablo"); Produção: Carlo Ponti, Pierre Rouve; Música: Herbie Hancock;
Fotografia (cor): Carlo Di Palma; Montagem: Frank Clarke; Casting: Irene
Howard; Direcção artística: Assheton Gorton; Guarda-roupa: Jocelyn Rickards;
Maquilhagem: Stephanie Kaye, Paul Rabiger; Direcção de produção: Donald Toms,
Roy Parkinson; Assistentes de realização: Claude Watson, Antal Kovacs;
Departamento de arte: Alan Roderick-Jones; Som: Robin Gregory, Mike Le Mare,
J.B. Smith; Companhias de produção: Bridge Films, Metro-Goldwyn-Mayer (MGM); Intérpretes: Vanessa Redgrave (Jane),
Sarah Miles (Patricia), David Hemmings (Thoma), John Castle (Bill), Jane Birkin
(a loura), Gillian Hills, Peter Bowles, Veruschka von Lehndorff, Julian
Chagrin, Claude Chagrin, Jeff Beck, Susan Brodrick, Tsai Chin, Julio Cortázar
(vaganundo), Chris Dreja, Melanie Hampshire, Harry Hutchinson, Jill Kennington,
Mary Khal, Chas Lawther, Dyson Lovell, Jim McCarty, Peggy Moffitt, Rosaleen
Murray, Ann Norman, Ronan O'Casey, Jimmy Page, Keith Relf, Janet Street-Porter,
Reg Wilkins, etc. Duração: 111
minutos; Distribuição em Portugal (DVD): Warner Bros; Classificação etária: M/
12 anos; Data de estreia em Portugal: 9 de Janeiro de 1968.
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